O Oceano no Fim do Caminho: Uma Fábula Moderna
Eu prometi a mim mesma que não leria O Oceano no Fim do Caminho antes dos livros anteriores do Gaiman, mas devido ao excelente preço em comparação aos demais (Lugar Nenhum, do mesmo autor, não se acha por menos de 40,00) acabei comprando e lendo primeiro. Eu sabia que não seria a melhor coisa que o Gaiman tinha escrito. Mas O Oceano no Fim do Caminho conseguiu me ganhar com sua sutileza.
Em
primeiro lugar, eu sou uma grande fã de Neil Gaiman. Ele é meu
autor favorito ainda vivo, e durante a leitura de seu novo livro ele muitas
vezes me relembrou porque eu dedico tanto carinho e admiração à suas obras.
Em
“O Oceano no Fim do Caminho”, um homem dirige até o fim da rua onde morou
quando era criança. Lá, ele encontra uma casa. A casa das Hempstock, se lembra.
Ele se senta no velho banco diante de um lago nos fundos da propriedade, e é
ali, sentado diante do lago que Lettie Hempstock dizia ser um oceano, que ele
se lembra.
As
memórias da infância do protagonista são desenroladas com polidez nostálgica,
detalhes aconchegantes e narrativa característica dos livros de Neil Gaiman. Se
nunca leu nada deste autor, eu adianto: é nada menos do que maravilhoso. É
envolvente, fascinante, ele consegue lhe transportar para ambientes em que você
se sente seguro, feliz, confortável, e de onde nunca mais quer sair. A
narrativa de Gaiman nos faz sentir criança outra vez, e ver pelos olhos de uma
o mundo adulto. Eu adoro quando Gaiman trabalha com crianças; é quando ele se
solta mais, quando faz suas histórias mais bonitas. O Oceano no Fim do Caminho
é, também, melancólico. O protagonista é um menino solitário, medroso, sem
amigos, e logo no primeiro evento que narra somos apresentados a uma cena no
mínimo desconfortável: ele, em sua festa de sete anos, sentado só em uma mesa
com chapeuzinhos, lembrancinhas, um grande bolo e cadeiras vazias. Ninguém
veio.
Os
pais do protagonista enfrentam dificuldades financeiras e precisam alugar o
quarto de cima. Quando um inquilino comete suicídio no carro da família, lá no
fim da estrada, no limite das terras das Hempstock, é quando as memórias de sua
infância ficam turbulentas. Como ele podia ter se esquecido daquilo? Como podia
ter se esquecido de Lettie Hempstock, da velha Hempstock e da senhora Hempstock?
Lettie
Hempstock, uma menina de 11 anos (“há quanto tempo você tem onze anos?”, ele
pergunta, ao que ela responde com um sorriso) que parece saber de tudo, diz
coisas confusas sobre o lago – lago não, Oceano.
Ela diz que algo está acontecendo com o Oceano e as pessoas daquela cidade. E
de fato estão. O menino acorda com uma moeda rasgando sua garganta, e é quando
Lettie decide fazer alguma coisa. Com a autorização da mãe e da avó para levá-lo
como companhia, caminham pelas terras das Hempstock – mas ele sabe que de
alguma forma aquela não é mais a fazenda – e encontram A Pulga. Ele acha que a derrotaram. Mas, quando volta para cara, traz
algo consigo. Algo perigoso, assustador, que obriga seu pai a tentar afogá-lo
na banheira e quer lhe trancar no sótão com monstros.
Não
vou além daí para não estragar a história.
No
fim, eu posso dizer que gostei bastante do livro. É uma fábula moderna, cheia
de magia, mistério e beleza, e toda a sutileza da infância. Mas acredito que a
propaganda em torno do lançamento seja bastante enganosa. “O primeiro romance
adulto de Gaiman desde 2005”? O Oceano no Fim do Caminho não é um romance
adulto. Assim como Coraline (do mesmo autor, que aliás tem um filme de animação),
é um livro para crianças inteligentes, jovens adultos, e adultos que querem se
lembrar de como era ser criança. É um livro que exala Neil Gaiman, pequeno, rápido de ler, para ser dirigido em algumas
horas de leitura solitária, e que vale muito a pena ser lido.
Acho a capa perfeita!
Nunca li nada dele, esse parece ser ótimo!
Beijinhos
Rizia - Livroterapias