A Arte e o Pop de Lady Gaga em síntese



         Após ser até considerado utopia, pelos fãs mais desesperados por material novo, ARTPOP chega aos ouvidos do grande público, depois da espera de quase 2 anos e meio desde o lançamento do confuso Born This Way e consegue agradar em quase todos os aspectos, sendo, sem sombra de dúvida, um dos melhores lançamentos do ano.
Um lead single compõe parte da face de álbum, dando-lhe uma identidade, e Applause fora escolhido para tal feito, e diga-se de passagem, com grande êxito, se tornando o maior sucesso de Lady Gaga nas rádios americanas desde Bad Romance. Já deixando bem claro por Applause, ARTPOP já se mostrava singelo, conceitual, exibicionista e primoroso. Com o show do iTunes Festival desse ano, tudo ia se moldando e agregando mais qualidade ao terceiro trabalho de estúdio da Germanotta. ARTPOP já era febre antes mesmo de seu lançamento.
Nesse faixa-a-faixa, vamos desconstruir música por música e inspecionar cada detalhe minucioso dessa grande obra, começando claro, por Aura:


Prematuramente especulado e confirmado, o produtor e DJ Zedd estava no álbum, dando sua humilde assinatura às composições da Gaga, e Aura – com sua demo já vazada antes mesmo do lead single - foi seu primeiro tiro no álbum.  É uma faixa extremamente revigorante e precisa, uma EDM concisa com retalhos tecno e violas médio-orientais, com batidas sintetizadas e vozes robóticas, tendo um chorus que nos faz cair de amores já na primeira ouvida. Aura, que já é uma faixa perdida no álbum, acredita-se que não será mais usada como single, pois já faz parte da trilha de Machete Kills – que não refletiu em nada nas salas dos cinemas, tendo uma das piores estreias dos últimos tempos -, que até com participação da própria conta. É uma boa faixa, de produção frenética e maçante, que, em meados de 2:47, seu refrão já está na cabeça e o clímax da canção só nos domina mais quando entoada a frase ´´DANCE, SEX, ART, POP´´.  Venus, que mais parece uma versão remasterizada de uma canção do ABBA, ressaltada pelos vocais graves em uníssono, consegue agradar pelo seu maravilhoso hook, e sua composição retratando exatamente a vibe do visual exótico, que Gaga vinha usando desde a divulgação de Applause, com seu biquíni de conchas. Em ressalte, Venus é uma produção da própria Gaga juntamente com Hugo Leclerc, que vale a tentativa, mas não passa de uma música pobre do álbum, que foi escolhida como segundo single oficial e sendo trocada posteriormente. G.U.Y,  terceira faixa do álbum, que se assemelha em partes com Government Hooker – terceira faixa do Born This Way – por ser pegajosa e de atribuirmos grande qualidade à primeira ouvida, se perde com o tempo e se torna mais uma no álbum, porém, diferente de Venus, G.U.Y  tem uma produção mais qualificada e de fácil absorção, torando-a uma das faixas mais viciantes e insinuadoras, atribuída ao ardoroso trabalho de Zedd.


Até então, o álbum vem seguindo uma linha que prega o exotismo nas composições regados à grandes (ou nem tanto) produções que podem redimir a essência das canções. Sexxx Dreams aparece para quebrar esse clima, com batidas singelas e cognitivas, porém com um refrão apagado, o que a simplicidade da produção pode não ajudar tanto, contudo, Sexxx Dreams, por ser simplista, é ótima. As quatro faixas do álbum, até então, são estruturalmente iguais, contando com um verso, pontes catchies e ótimos refrões, mostrando talvez, todo seu potencial em segurar os ouvintes até o segundo final das músicas. E quando citado que a estrutura das canções estão semelhantes, nos aparece um R&B/Hip-Hop pela frente, Jewels N’ Drugs, que detém a participação do rapper T.I. e mais dois, tinha tudo pra dar errado, e deu. A música começa bem, com o T.I. introduzindo-a, mas a partir do que mais parece ser um primeiro refrão, com a Gaga tentando expor seu lado nigga, é explícito o desconforto que essa parte nos traz, que após um verso, ela repete. E, sem ninguém esperar, os dois outros rappers, Too $hort e Twista, dominam a música e se tornam a parte aceitável dela, enquanto Gaga tenta salvar seus vocais nela entoando um novo refrão, dessa vez mais agradável, tornando a canção uma bagunça. Após a desesperada tentativa de soar atual, vendo que o R&B vem voltando aos poucos a tona na indústria fonográfica, temos o contrário disso, MANiCURE, uma das faixas mais gloriosas do álbum. É feminista, é forte, é contagiante, é fantástica! O solo de guitarra em sua finalização, só nos dá mais certeza de sua maestria, denotando, em seu sumo a rebeldia das garotas do The Runaways, mostrando seu potencial para um futuro single, e caso não seja, será um grande desperdício – o que pode facilmente ocorrer, pois MANiCURE não é nada comercial -. Dando continuidade à linha R&B do álbum, Do What U Want, consegue ser deliciosa do seu começo ao fim e prova que não precisa de uma produção mirabolante, vocais transformados, forçando a barra de alguma forma, para se fazer uma boa canção. R. Kelly, com seus vocais suaves, só veio a calhar mais na qualidade, Do What U Want é uma boa surpresa, sem prometer. 


Em seguida, temos a faixa-título do álbum, ARTPOP, que é tão desinteressante quanto Jewels N’ Drugs, entretanto conseguindo ser superior de alguma forma, talvez por sua produção, que apesar de monocromática, chega a ser psicodélica, mostrando uma face verdadeira, e sua frase final, que vale por todos os versos da canção: “Free my mind, ARTPOP / You make my heart stop”. Um grande remix do DJ White Shadow toma conta da vibe do cd, o levantando mais uma vez, Swine é geniosa e foi aclamada pelos fãs antes do produto final, mas pela opção de deixá-la com ar de remix fabricado, a deixou mais fraca. A troca de versos é Swine é foda, é uma revolta expressa, agressiva e que tenta ser feminista, porém sem esconder o interesse no porco por dentro de um corpo humano... Donatella, mais um electropop do Zedd, chegando em meio à ressaca das batidas de Swine, e que na verdade, deveria ser uma continuação da mesma, não funcionou. A faixa é boa, uma das melhores composições, retratando livremente sobre uma grande personalidade da moda, sendo sempre um alvo da Gaga, servir a moda e utilizá-la na cultura pop de forma assídua, Donatella deveria ser realocada no álbum para ganhar mais destaque. Falando em moda, e já sendo esperada uma farofa daquelas, pelo motivo primordial de ter sido produzida por will.i.am e David Guetta, Fashion! Consegue tirar essa ideia e surpreender por ser suave, nos dando essa mesma sensação enquanto a ouvimos, remetendo mais uma vez ao seu trabalho anterior, onde usa da moda como palco para suas composições, exprimida em Fashion of His Love, por exemplo. E então chegamos a Mary Jane Holland – particularmente minha preferida - , que não traz nenhuma grande revolução, mas tendo seu teor de importância, sendo mais uma dobradinha Gaga/Leclerc, onde os vocais se perdem em meio a produção – sim, às vezes isso é bom!!- e o que ao fundo parece dubstep, não passam de efeitos sonoros eletrônicos. Dope, primeira e única balada do álbum, basicamente voz e piano, que ao longo dela se é acrescentado alguns arranjos eletrônicos, é aquela faixa dos emocionalmente conturbados, sempre agrada. Gypsy, por sua vez, foge a todos os parâmetros impostos pelo próprio ARTPOP, é uma grande música que poderia facilmente encerrar o álbum de forma apoteótica, sendo um motivo crucial pelo qual não se foi feito, pois o álbum não terminaria do jeito que começou. Alguns remetem a sonoridade de Gypsy ao The Fame, porém não vi nada de Thefamístico nela, ouvi The Queen, ouvi The Edge of Glory, ouvi alforria, libertação.
E a escolhida, claro, para fechar as portas do ARTPOP, foi Applause, o lead single promissor com produção despretensiosa, composição excepcional e vocais conturbados agradabilíssimos. Não poderia ser melhor, terminar um álbum como se fosse um espetáculo, com ovação.


ARTPOP, o grande terceiro trabalho de Lady Gaga é fantástico, porém ainda não é o melhor, produções exacerbadas e canções descompromissadas com núcleo do álbum pesam na concepção. Não houve uma tão esperada revolução aclamada pelos fãs, na verdade sempre há uma aglomeração de expectativas, que quase nunca são assertivas e/ou atendidas. O POP está aí, gritante, a ARTE está imposta de forma empírica sejam nas composições ou nas produções. O que posso dizer, é que ARTPOP não é o álbum do milênio, nem na década, contudo sendo um grande marco na carreira da Stefani Germanotta e um divisor na indústria fonográfica, como qualquer outro possível trabalho de Lady Gaga pós-The Fame, por carregar sua identidade, exagerada e transgressora, e, querendo ou não, um mix de grandes artistas ao redor do mundo, traduzindo basicamente no melhor que todos eles tem a oferecer. Merece todo o frisson da mídia e os exageros dos fanáticos Little Monsters, pois terminamente assim, Lady Gaga reafirmou seu lugar na nobreza do Pop, provando que de one hit wonder, ela não tem nada.





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